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Harvey Weinstein atacou modelo sexualmente mais de uma vez, afirma promotora

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O novo julgamento de Harvey Weinstein no caso de agressão e estupro ouviu as acusações das supostas vítimas do produtor de cinema nesta quarta-feira. Entre elas, a de Kaja Sokola, que não depôs no julgamento de cinco anos atrás.

 

A promotora Shannon Lucey apresentou, ao júri de sete mulheres e cinco homens que decidirão o destino do ex-magnata do cinema de 73 anos, as acusações das três vítimas que o levaram a julgamento. E lembrou que as vítimas repetiram que ele nunca aceitava um não como resposta.

“Ele tinha todo o poder, elas não tinham nenhum”, disse a promotora, que descreveu em detalhes os ataques do produtor às suas vítimas. Uma delas, a então modelo polonesa Kaja Sokola, tinha 19 anos no momento da agressão julgada nesse processo. Weinstein tinha 54, e já a teria assediado antes, quando ela tinha 16 anos.

Em 2019, Kaja Sokola havia apresentado outra ação contra o produtor sob a Lei de Vítimas Menores de Idade por uma agressão sexual que sofreu quando tinha 16 anos, detalhou sua advogada Lindsay Goldbrum, que lamentou que o crime tenha prescrito.

Segundo Lucey, a promotora, Sokola conheceu Weinstein quando ela havia acabado de chegar a Nova York e foi convidada a um clube por um promoter do local. Lá, o produtor teria perguntado se ela tinha interesse em atuar, e ela teria dito que sim.

Dias depois, ela afirmou, os dois teriam combinado de se encontrarem num restaurante para discutir a carreira dela, mas, em vez disso, ela foi levada a um prédio. Lá, Weinstein teria abaixado as calças da garota e tocado em seus genitais.

Dois anos depois, o produtor teria ido atrás dela outra vez. A promotora diz que ele a tentou agarrar num carro, mas que ela afastou sua mão e deixou o veículo. “Não é isso que estamos fazendo”, teria dito Sokola. A modelo manteve contato com Weinstein nos anos seguintes e chegou a ser figurante, por meio de intervenção dele, em “The Nanny Diaries”, estrelado por Scarlett Johansson e Alicia Keys.

Em 2006, Sokola almoçou com sua irmã e o produtor num hotel. Depois, ele a teria convidado para subir para seu quarto afirmando que tinha roteiros para ela ver. Lá, ele a teria mandado tirar suas roupas. Envergonhada e paralisada, conforme narrou a promotora, a suposta vítima teria sido prensada pelo homem contra uma cama, e ele teria feito sexo oral nela. Enquanto ela implorava para ele parar, ele teria se masturbado. “Viu, não foi tão ruim”, Weinsten teria dito, segundo Lucey.

Enquanto os rostos das vítimas eram exibidos em uma tela no tribunal lotado de repórteres, Lucey relatou as inúmeras exigências de Weinstein por massagens e favores sexuais, que a assistente de produção Mimi Haleyi recusou até um dia, em 2006, quando “estava sozinha” num apartamento com o ex-produtor.

“O réu, três vezes maior [que ela], a beijou, apalpou [mesmo que] ela tenha dito que não estava interessada”, ele “a agarrou e a empurrou para o quarto”, onde fez sexo oral, apesar de a vítima “implorar para que ele parasse”.

Arthur Aidala, advogado de Weinstein, repetiu que seu cliente não é culpado, ao pedir ao júri que enxergasse toda a história e insistir que suas relações sexuais do magnata com suas acusadoras foram sempre consentidas. A única coisa imoral, na opinião dele, é que ele traiu sua mulher na época.

Depois das alegações iniciais, tiveram início os depoimentos das testemunhas, que continuarão na quinta-feira.

O juiz de instrução Curtis Farber espera que o julgamento do produtor de filmes como “Sexo, Mentiras e Videotape”, “Pulp Fiction – Tempo de Violência” e “Shakespeare Apaixonado”, que deixou uma marca indelével no cinema, termine no fim de maio.

Entre as testemunhas, é esperado que suas três acusadoras prestem depoimento -Mimi Haleyi, a atriz Jessica Mann, que o acusaram de agressão sexual e estupro, ocorridos em 2006 e 2013, respectivamente, e Kaja Skola, por uma agressão sexual que teria ocorrido em 2006 em um hotel de Manhattan.

Com um diagnóstico de leucemia, problemas coronarianos graves, diabetes, fortes dores nas costas, entre uma longa lista de doenças que o levaram a ser hospitalizado várias vezes nos últimos meses, o cofundador dos estúdios Miramax compareceu ao tribunal em cadeira de rodas.

Weinstein espera que o caso seja visto com um novo olhar, quase oito anos após as investigações do jornal The New York Times e da revista The New Yorker, que provocaram sua queda e o nascimento do movimento MeToo, considerado como o momento de libertação da palavra de muitas vítimas contra abusos sexuais, em particular no ambiente de trabalho.

Detido na penitenciária de Rikers Island, em Nova York, Weinstein cumpre atualmente outra condenação de 16 anos, imposta por um tribunal de Los Angeles por estupro e agressão sexual em 2013 contra uma atriz europeia.

Descrito por suas acusadoras como um predador que utilizou sua posição de criador de carreiras na indústria cinematográfica para obter favores sexuais de atrizes ou assistentes, muitas vezes em quartos de hotel, Weinstein sempre afirmou que as relações foram consensuais.

Mais de 80 mulheres o acusaram de assédio, agressão sexual ou estupro, entre elas atrizes consagradas como Angelina Jolie, Gwyneth Paltrow e Ashley Judd.