Argentina vive onda de saques a lojas e supermercados
A inflação nos últinos 12 meses na Argentina é de mais de 110%. O país está no meio de uma eleição presidencial. Policiais protegem um supermercado na província de Rio Negro, na Argentina
Tomas Cuesta/AFP
A Argentina está vivendo uma onda de saques a supermercados e lojas, principalmente em cidades da região metropolitana de Buenos Aires. Pelo menos 200 pessoas foram presas.
O país está no meio de eleições para presidente –o primeiro turno está marcado para o dia 22 de outubro.
A inflação está descontrolada: o principal índice de preços, o IPC, passa de 110% nos últimos 12 meses.
1) O que aconteceu?
Os incidentes ocorreram entre a última sexta-feira e esta quarta-feira (23).
Grupos supostamente convocados pelas redes sociais forçaram a entrada em supermercados e outros estabelecimentos. Roubaram e causaram destruição nas seguintes províncias:
Buenos Aires (a mais populosa, com quase 40% da população total do país),
Mendoza,
Córdoba,
Neuquéne
Río Negro.
Uma loja na capital (a cidade de Buenos Aires é uma região autônoma) também foi alvo de um ataque, mas os vizinhos repeliram os assaltantes.
De acordo com relatórios oficiais divulgados em coletivas de imprensa, foram 150 tentativas de saques e 94 pessoas detidas em bairros da periferia da capital.
Em Mendoza, foram 66 presos. “São criminosos que agem de forma organizada, com a participação de menores de idade”, segundo o comunicado do governo.
O promotor de Córdoba, Ernesto de Aragón, informou que “foram presas 23 pessoas por diversos ataques a comércios”.
Também foram registradas mais de uma dezena de detenções em Neuquén e Río Negro.
2) A quem se atribuem os ataques?
Raúl Castells, antigo dirigente de movimentos sociais grevistas e pré-candidato presidencial, disse ao canal TV Crónica: “Eles estão saindo em busca de comida e se não encontrarem comida, nós, que somos os que estamos convocando isso (saques), estamos dizendo a eles que, sem roubar dinheiro ou quebrar nada, levem o que puderem para trocar por comida”.
A equipe de checagem da agência de notícias AFP identificou a circulação de vídeos, nas redes sociais, de saques que não correspondem ao momento atual.
Embora isolados, os acontecimentos remetem aos saques violentos registrados durante os governos dos sociais-democratas Raúl Alfonsín, em 1989, e Fernando de la Rúa, em 2001. No entanto, as tentativas reais de saques e roubos foram confirmadas pela polícia e pela imprensa.
Segundo o governador de Buenos Aires, Axel Kicillof, “moradores e moradoras não participaram em massa nisso” e “muitos moradores tentaram impedir que os violentos realizassem essas ações”.
3) Qual foi a reação do governo e da oposição?
O presidente peronista Alberto Fernández, que não concorre à reeleição, afirmou que considerou os saques organizados, pediu para “cuidar da convivência democrática” e prometeu cuidar “dos problemas dos argentinos e suas rendas”, mas lhes pediu “que preservem a paz social, por favor”.
O ministro da Segurança, Aníbal Fernández, afirmou que “o que aconteceu não pode ser atribuído a fulano ou sicrano”.
Como o país está no meio das eleições presidenciais, o tema virou parte do debate político rapidamente.
A porta-voz do governo, Gabriela Cerruti, disse à imprensa que os candidatos opositores Javier Milei e Patricia Bullrich “constroem seu discurso público com base no desejo que têm de que a democracia se desestabilize”.
Para Milei, o candidato mais votado nas primárias de 13 de agosto, com 30% dos votos, “é trágico ver novamente depois de 20 anos as mesmas imagens de saques que vimos em 2001. Pobreza e saques são duas faces da mesma moeda”, afirmou ele nas redes sociais.
Bullrich, que ficou em segundo lugar com pouco mais de 27%, disse que é preciso “restaurar a autoridade”.
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4) Em que contexto ocorrem os ataques?
Além da inflação, uma das mais altas do mundo, o índice de pobreza aumentou na Argentina e chega a 40%.
Há 10 dias o governo e o Fundo Monetário Internacional fizeram um acordo para desvalorizar o peso, a moeda local. O país pôde então desbloquear um fundo de US$ 44 bilhões (R$ 217 bilhões na cotação atual). O ministro da Economia, Sergio Massa, é o candidato à presidência do grupo que hoje governa o país.
Logo depois da desvalorização, os preços subiram muito –cerca de 30%. A população reclamou.