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Como diferenciar estresse bom e ruim e evitar um burnout

Pode parecer algo surpreendente para a maioria das pessoas, mas nem todo estresse é ruim. Níveis saudáveis de estresse podem ajudar a desenvolver resiliência, diz a cirurgiã Safia Debar, especialista em manejo do estresse na Mayo Clinic Healthcare em Londres. Entenda como podemos distinguir o estresse positivo e negativo, e também saber quando sua presença está sendo prejudicial para a nossa saúde.

O estresse é uma reação física e psicológica para uma situação que nosso corpo interpreta como ameaçadora, mas sua ativação pode se dar de maneira inespecífica, sendo causada tanto por demandas positivas quanto negativas, produzindo mudanças corporais para nos manter alerta e com capacidade de fuga ou luta. 

Entre as mudanças físicas que podem ocorrer ao perceber uma ameaça estão:

O sistema nervoso simpático e a produção do principal hormônio do estresse, o cortisol, são ativados.
Os pensamentos passam a ficar negativos conforme você vivencia ou prevê algo ruim. Hiperatenção é direcionada ao que está acontecendo.
O coração, pulmões e músculos se preparam para você lutar ou correr. Há um aumento na frequência cardíaca, pressão arterial e frequência respiratória à medida que o organismo precisa enviar mais oxigênio para as células. Os músculos tensionam. 
Os sistemas digestivo e reprodutivo desaceleram, pois sua atividade não é necessária.
O sistema imunológico se concentra em combater invasores microscópicos como vírus ou células cancerígenas e passa para o modo inflamatório, aumentando a produção de proteínas, chamadas de citocinas, que ajustam esse processo.  
 

O estresse bom para nós, que chamamos de eustresse, é um estresse mais controlável que pode ser desencadeado tanto por situações negativas como positivas como um casamento, ou uma notícia de promoção, por exemplo. Se trata de estresse cíclico, aonde partimos de uma base de relaxamento, nos deparamos com um fator estressante, a resposta ao estresse se inicia, atinge o seu pico e, depois, voltamos para a base. “Essa resposta rápida do corpo, na verdade, é muito positiva para nós, pois garante que estejamos em alerta em situações extremas, o que pode salvar nossa vida”. 

Quando a “ameaça” já não existe mais, o organismo começa a se reparar dessa resposta e se organizar. Ele muda para um estado de reparo, renovação e crescimento conforme a resposta ao estresse passa. Fisicamente, a frequência respiratória e cardíaca desacelera, a pressão arterial normaliza, você passa a respirar mais profundamente, a tensão muscular alivia, os sistemas digestivo e reprodutivo retomam a atividade normal e você começa a se conectar com outros para contar sobre a ameaça que acabou de vivenciar. “Se você se estressa e, depois, se acalma, significa que você completou o ciclo de estresse. Não houve nenhum dano”, diz a Dra. Debar. “Na verdade, é provavelmente bom para você, pois sua resiliência aumenta. Se, alguma vez, você passou por uma situação estressante na vida, processou ela e completou esse ciclo, na próxima experiência semelhante, você saberá que é uma situação ruim, mas que conseguirá superar.” 

Já o distresse, que é estresse ruim, é algo que acontece de maneira crônica onde o corpo emite sinais de alerta excessivo, cansaço ou de sobrecarga psíquica e ainda, sim, é forçado a continuar. Isso cria uma “inflamação” que se não for interrompida, ao longo do tempo pode causar problemas a saúde cardíaca, ao nosso sistema respiratório, nossa saúde mental, nossos músculos, nossos hormônios e cérebro. 

A Dra Debar ressalta que quando alguém se estressa demais e repetidamente, a capacidade de voltar para a base começa a diminuir aos poucos. “Você pode se estressar e ficar nessa condição, tendo uma resposta prolongada. Isso ocorre quando você está em modo de hiperatenção, em que se sente com energia, porém cansado e ansioso” completa. “É a falta de recuperação, e não o próprio fator estressante, que é crítica. Depois de um tempo, pode ser que você simplesmente fique sem reação e se sinta “anestesiado”.

Há vários sinais que podem indicar o risco de sobrecarga de estresse e que é hora de tratá-los, diz a Dra. Debar: 

Se o estresse parece incansável e constante.
Se o estresse parece incontrolável e você não consegue relaxar ou sente que está no “piloto automático”.
Se é difícil para você controlar as emoções.
Se você começa a fugir da vida e/ou pessoas. 
Se você apresenta sintomas físicos como dores de cabeça, dor no peito, dor no estômago, dificuldade para dormir ou fica doente com mais frequência.

A médica ressalta que existe uma falsa sensação de que não reagir a uma situação de estresse seria o mais indicado, entretanto, a resposta ao estresse e sua sequência de eventos internos corporais acontecem da mesma forma, só que de maneira oculta. Por isso o mais indicado é controlar o ciclo do estresse para que ele se inicie e finalize e não tentar impedir que ele aconteça.  

“Pense em como o seu organismo administra o estresse e como você o administra emocional, fisicamente e em seus relacionamentos”, diz a Dra. Debar. “O que você faz e o que não faz.” O estresse crônico pode ter efeitos de longo prazo na saúde. As pessoas com sintomas físicos contínuos ou que acham que mudanças ao estilo de vida não parecem ajudar devem consultar o seu médico, diz a Dra. Debar.